As suas ideias, baptizadas de "Projecto Roquete", visavam duas vertentes:
- Ao nível do clube, o objectivo era implementar um modelo empresarial num mundo habituado ao improviso, introduzindo regras de gestão e definindo políticas de rigor, com vista a um futuro de equilíbrio patrimonial, financeiro e económico. Simultaneamente, criar condições para que, a curto prazo, o clube pudesse regressar a discutir com assiduidade títulos nacionais no futebol, e conquistá-los. Para isso era, no seu entender, fundamental requalificar o património imobiliário do clube, nomeadamente a construção de um novo estádio e de um centro de estágios/academia, onde o clube teria todas as condições para apostar definitivamente na formação de talentos que, no futuro, deveriam ser o eixo principal da estratégia do clube e o suporte do futebol enquanto principal actividade profissional.
- Já a nível externo, pretendia-se aglutinar vontades com o intuito de criar consensos de modo a retirar o futebol português do lamaçal em que se via envolvido, devolvendo-lhe a credibilidade, afastando suspeições e implementando um modelo competitivo que assegurasse a sobrevevivência de todos os clubes, pugnando pela verdade desportiva e combatendo a concorrência desleal. Defendia Roquete que havia mais pontos que deveriam apelar à convergência e união dos responsáveis de todos os clubes, do que pontos de desunião.
Onze anos depois, podemos fazer um balanço:
- o Sporting regressou às vitórias no campeonato, quebrando um jejum de 17 épocas, mas a frequência dos êxitos ainda não é a desejada;
- Temos um novo e moderno estádio e uma Academia de fazer inveja aos maiores colossos mundiais;
- Foi implementado um modelo empresarial no Sporting, mas é duvidoso a vantagem de um tão complexo e pesado grupo empresarial;
- O Sporting tornou-se num clube menos ecléctico;
- O número de sócios diminui drasticamente e, um estudo recente, apontava para cerca de 29000 sócios com as quotas em dia;
- O Sporting encontra-se numa situação financeira precária, com a sua tesouraria asfixiada pelo serviço da dívida e um orçamento para o futebol de cerca de metade dos seus principais rivais;
- Os terrenos do antigo estádio, que deveriam financiar as novas infraestruturas, mantêm-se numa situação pouco clara, sucedendo-se os boatos/insinuações que personalidades que ocuparam/ocupam as cúpulas do Sporting têm interesses conflituantes em entidades envolvidas em negócios com o clube;
- O Sporting mostra-se incapaz de manter na equipa principal por um período aceitável os jovens talentos formados na Academia, os quais acabam, por vezes, a reforçar os rivais e a tornaram-se as suas principais figuras;
- Verifica-se a desmantelação sucessiva de equipas com potencial, evitando-se a possibilidade de colher frutos desportivos das mesmas;
- O futebol português continua por regenerar e, conforme acontecimentos recentes parecem provar, não se vislumbra para breve qualquer alteração.
Conclusão. Na minha opinião, apesar de alguns aspectos positivos, o Projecto Roquete ficou aquém das (muitas) expectativas criadas. O assumir claro dessa situação, acompanhado das respectivas (e também claras) justificações, seriam o melhor caminho para quem quer continuar/remodelar o Projecto, conquistar a confiança dos sócios. Caso contrário, e perante estes factos, ficam à mercê de campanhas populistas e demagógicas que lhes podem trazer amargas surpresas. Afinal de contas, estes últimos onze anos não foram só coisas boas.
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